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sábado, 30 de junho de 2012

14 Semana Nacional sobre Drogas!


A coordenadora do Projeto Consultório de Rua de Salvador, Andréa Leite é agraciada com o Diploma de Mérito pela Valorização da vida. O diploma é concedido a personalidades,  instituições públicas e privadas, que tenham contribuído de maneira significativa em ações de implementação e fortalecimento da Política Nacional sobre drogas e do programa "crack, é possível vencer".


A cerimônia de entrega aconteceu no dia 26 de junho, em Brasília, no Salão Negro do Ministério da Justiça, durante a 14 Semana Nacional sobre Drogas, promovida pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) do Ministério da Justiça, que nesse ano teve como tema A prevenção do uso de drogas como compromisso de todos.



No mesmo evento a estudante Iane Dantas, que vai a campo com a equipe do Consultório de Rua de Salvador para coletar dados para uma pesquisa de âmbito nacional, recebeu o prêmio de melhor monografia.


sexta-feira, 29 de junho de 2012

Vem aí o seminário: "A invisibilidade e o olhar do CR"


O seminário A invisibilidade e o olhar do Consultório de Rua discutirá questões relacionados ao uso e abuso de drogas pelos “invisíveis sociais” e será realizado no dia 30 de julho, em Salvador das 8:30h às 13:00, com local a ser definido.

O seminário contará com a participação de Edward MacRae, Cláudio Silva Loureiro, Coordenador clínico do Projeto Quixote (SP), Ricardo Cappi, Mirian Gracie Plena, dentre outros.

Na ocasião acontecerá o lançamento do Livro Guia do Projeto Consultório de Rua. Aguarde programação e abertura das inscrições!



segunda-feira, 25 de junho de 2012

São João com gosto de confraternização!!


O Consultório de Rua, junto com a população da rua, crianças e adolescentes em situação de rua e/ou em risco de vulnerabilidade social, facilitou uma Festa de São João um uma Praça em que o CR atua.





Ela foi pensada e organizada juntamente à população local que frequenta a praça. Uma semana antes a equipe conversou com alguns presentes sobre o que a festa teria e combinamos como cada um contribuiria.


Ao chegar na praça, a primeira coisa que reparamos foi, justamente, uma pequena armação de lenha para a fogueira. Sinal de que eles fizeram a parte deles. 




Nós também fizemos a nossa. Depois que Anselmo conversou com alguns usuários que estavam na praça sobre a proposta de organização do evento, se topavam o que a equipe tinha pensado, começamos, todos juntos, a arrumar o local. Foram instaladas as mesas, o som, técnicos, usuários e crianças em clima descontraído passaram a varrer o chão, enfeitando a praça com bandeirolas de papel de revistas e jornais confeccionadas na semana anterior junto com os usuários. A praça ficou com outra cara. Como também as crianças: meninas de pintinhas sardentas na face, meninos com belos bigodes!

                                           

                                                    


Dois rapazes religiosos, vinculados a uma igreja evangélica, chegaram com café, suco e pão com queijo e mortadela, e ficaram servindo numa mesa trazida pelo Consultório de Rua.


                                         


 Com megafone na mão, Anselmo abriu a festividade com a participação especial de Marcos (nome fictício), adolescente de 15 anos, que pediu pra convidar a galera e pra cantar uma música – acabou cantando várias. 


                                          


O som embalou as brincadeiras, feitas com as crianças, sendo uma delas a dança das cadeiras. Até o cachorrinho de um dos moradores quis participar!!! Do jeito dele...






Até que chegou a hora do Arraiá da Praça dos Mares! Êta, que animação!!! Teve serrote, teve túnel, teve caracol e tudo, pelo menos, de básico numa típica quadrilha de São João. Ao final, acendemos a fogueira, que, por sinal, veio em boa hora, pois já estava sentindo o frio de nosso tímido inverno soteropolitano.





Um homem em situação de rua, que estava acompanhado de uma moça também na mesma situação e bastante alegre com a festa, comentou com expressão vivaz que, pela primeira vez, experienciou uma festa de São João na qual se sentisse feliz, o que nunca aconteceu nas que participou com a família sanguínea. Ele me fez ver de outra perspectiva a experiência da situação de rua: ir para a rua pode ser uma estratégia de saúde mental – e se o morador de rua deve ser cuidado, com mais razão ainda deve ser a família, que também precisa de apoio para refazer as suas relações e possibilitar, assim, a permanência do parente, uma vez que, pelo visto, uma miséria compartilhada com respeito a dois ou mais é, muitas vezes, e com razão, por motivo de saúde mental, preferível ao conforto frio ao lado de uma companhia desagradável.
Anselmo acabou encontrando Camilo, que, ao me ver, sorriu e me pediu para ligar para a mãe, pois queria tomar um banho e comer algo. Ele aproveitou para marcar um encontro no CETAD com ela e perguntar a Camilo se gostaria de marcar também uma data para ir ao mesmo local. Ele disse que sim e marcamos então de levá-lo da Feira de São Joaquim até o CETAD. Espera-se que dê tudo certo, assim como foi com o nosso São João.










Foi distribuído kit de higiene bucal para todos que estavam presente na confraternização.



Para essa ação, a equipe contou com a participação dos técnicos e estudantes do projeto e com a presença de Paula Boaventura, repórter do Portal CETAD OBSERVA. 


 Todos os pequenos queriam tirar foto com Paula!


                                         


No caminho de volta para a casa, a equipe ainda tinha fôlego para comemorar, no carro em movimento, o arrasta pé no campo!! 




Preparativos para a festa de São João... Terá Arrasta Pé na Praça!


A equipe vai a campo como de costume e inesperadamente recebe o pedido (no dia 08/06): "vamos festejar o São João?!"  Esse é o nosso primeiro ano nessa área de atuação.


 
Animados, usuários e técnicos começam a pensar em como fazer a festa acontecer durante a noite e na praça. Um dos catadores, logo sinaliza: "eu posso doar jornal!".




Nesse campo de atuação do projeto, muitos voluntários de forma individualizada ou através de grupos religiosos distribuem alimentos aos usuários na praça. Assim, esses foram convidados a participar da festa e contribuírem com comidas típicas (uma vez que já fazem doação de alimentos diariamente).  Aproveitaremos a ocasião para distribuir para os voluntários que distribuem alimentos na praça, dicas de alimentos possam ajudar a repor as perdas nutricionais dos usuários de crack, maconha e cola (principais substancias utilizadas pelos usuários daquela localidade), já que percebemos que existe a aceitação dessas refeições por eles.




Unidades de saúde e sociais foram convidadas a participarem do festejo. Os próprios usuários fizeram a decoração e produziram cartazes sobre a temática na semana passada, conforme registro.  A confraternização acontecerá no dia 21 de junho às 20:00h.


E VIVA A SÃO JOÃO!!!

Consultório de Rua participa do evento “Câmbio de Conhecimentos: reduzindo danos e fortalecendo brilhos!”

O evento promovido pela Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas, através da Diretoria de Promoção a Saúde – DIPS, em parceria com as Secretarias Municipais de Assistência Social e Saúde de Maceió/Saúde Mental/ Consultório na Rua, aconteceu nos dias 14 e 15 de junho, na cidade de Maceio. 

 

O objetivo do evento foi proporcionar um espaço para compartilhamento de experiências entre diferentes setores que atuam junto a pessoas em situação de vulnerabilidade social e fortalecer as redes de atenção às pessoas que vivem em situação de rua e fazem uso de crack e outras drogas.




Na ocasião a coordenadora do projeto em Salvador, falou sobre as vicissitudes da atuação do CR de Salvador, em que foi possível discutir situações vivenciadas pela equipe no campo e refleti o papel do CR. As experiências de Pernambuco, bem como o Projeto Lua Nova e o Pode Crer, ambos do município de Sorocaba também apresentaram as suas experiências.


quinta-feira, 21 de junho de 2012

Visita de estudantes da Chamberlain School of Nursing




22 de maio

As estudantes de enfermagem, realizaram visita ao CETAD ocasião em que foi apresentada a estratégia do Projeto Consultório de Rua e do Saúde (de cara) na rua. O grupo visitou dois campos de atuação do projeto, porém, sem manter contato com os usuários.

Supervisão


Nessa supervisão, temas relacionados a ética na atuação na rua, foi o tema que norteou as discussões. Até aonde o Consultório de Rua pode ir? Essa interrogativa surgiu a partir da discussão de um caso. Trata-se de uma jovem, com histórico de prostituição,  abortos, uso de crack e morada na rua. A mesma é acompanhada pela equipe há algum tempo. Ela refere ter família que reside em uma área violenta do subúrbio de Salvador, em que a sua irmã, periodicamente a visita na rua, demonstrando a manutenção do vinculo, desaprovação a vida que a irmã leva na rua e o desejo de tê-la em casa.

Em um longo atendimento com a educadora social e enfermeira da equipe, por volta das 22:00 horas, em meio a angustia e choro, mediante a constatação do sofrimento que viver na rua causa, a usuária fala de como é a sua casa e que esta percebendo a necessidade de sair da rua e buscar tratamento para o uso do crack. As profissionais então propõe  agendar para que na manhã do dia seguinte elas possam acompanhá-la até o CETAD ou a casa da mãe dela e esta responde "de que adianta eu marcar com vocês, se eu sei que amanhã eu posso não estar? eu não sei se vou usar algo e se fumar o crack não estarei aqui. Eu quero ir agora! Me leve pra casa!"

Como agir nesses casos? Ela não possuía nenhum telefone para contato, para que a equipe pudesse ligar avisando da ida, não havia certeza do que a equipe poderia aguardar nesse local. E se a família não a quisesse? Como lidar com os limites da intervenção na rua? Como lidar com a angustia dos técnicos mediante a constatação de que pouco podiam fazer naquele momento para além de dar a escuta necessária e manejar o sofrimento daquela jovem? Como entender que ir ao encontro não é pouco?

 


Relato de Campo



Como de rotina, fomos para a rua desenvolver o trabalho, porém, diferente dos demais dias, a rua estava esvaziada. Anselmo, psicólogo da equipe, se dirigiu ao carro do projeto e trouxe com ele duas cadeiras, uma mesa e colocou sobre ela papel e lápis de colorir. Os técnicos se entre olharam, diante do deserto que estava a rua e Anselmo falou: "Se uma pessoa sentar aqui, o trabalho foi feito!". Ele se afastou da mesa e com o violão, se juntou ao capoeirista e outros da equipe. Não demora e uma jovem se aproximada enfermeira e de uma estudante e fala sobre a sua difícil relação com o namorado, que por vezes é agressivo com ela. Findado o atendimento, ela se despede e e ao ver a mesa pergunta: "posso desenhar?" Prontamente, forneço papel e lápis de colorir. Naquele momento ela demonstra não desejar falar, apenas desenhar. Ela desenha por alguns minutos e após ser elogiada pelo feito e pela letra bonita, ela revela "eu amo desenhar... gosto mesmo... gosto também da escola, mas eu não vou... a senhora me dá papel para eu desenhar em casa?" Ali, me recordei da frase de Anselmo: "Se uma pessoa sentar aqui, o trabalho foi feito!".

Muitas vezes, ao ver o campo de atuação, a equipe fica desanimada, sem saber o que fazer. Mas com criatividade, as pessoas vão se aproximando, as coisas vão se revelando e o mágico encontro acontece! O que será do próximo encontro entre humanos?

Seminário Interno

Abril


Enquanto processo de formação continuada, periodicamente o CR realiza seminários internos, com discussões teóricas de temas que emergem da prática. Como em um dos campos existe alta prevalência de usuários de cola, a estagiária Amine Ferreira, ficou a frente do debate sobre a temática.




Dra. Ilena Mota, apresentou os efeitos danosos do álcool em diversos órgãos do corpo, seguida de discussão sobre formas de realizar ações redutoras de riscos e danos à saúde dos usuários atendidos em um determinado campo de atuação do Consultório de Rua, usuários alcolistas são maioria.



Confraternização de despedida de pesquisadora



27 de abril de 2012

Durante dois meses, o CR de Salvador, recebeu a visita das pesquisadora Pós-doutoranda PNPD/CAPES no Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem - USP, Departamento de Enfermagem Materno-Infantil Psiquiátrica. A vivência, teve como objetivo compreender o modo como o CR do CETAD atua junto a população em situação de rua. Os pesquisadores e estudantes, geralmente possibilitam momentos de reflexões da nossa prática, sendo necessário que todos estejam disponíveis para a troca.

Quem somos


Equipe:

Ø      Supervisor: Antonio Nery Filho

Ø      Coordenadora da equipe e Assistente Social: Andréa Leite

Ø      Psicólogo: Anselmo Chaves

Ø      Enfermeira: Rizia Eustaquio e América Caroline Sodré

Ø      Instrutor de oficina: Lucas Camões e Luceni Vilela

Ø      Educadora Social: Ione Santos

Ø      Estagiários: Amine Ferreira (Enfermagem)

                             Sandra Andrade (Psicologia)

                             Roberta Machado (Psicologia)

Ø      Residente: Monique dos Santos (Enfermagem)

                             Rodrigo (Medicina)     

                        

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Relato de Campo

Estava chovendo. Era mais ou menos umas 8:00hs da noite.
Ficamos um tempo parados dentro do carro, até que apareceu Camilo (nome fictício) e resolvi sair e conversar com ele.

Rapaz de 15 anos. Estava descalço e com os braços encolhidos dentro da camisa. Convidei-o para nos abrigarmos sob a extensão para a rua do teto de um dos bares da Feira de São Joaquim.

Ele se sentou sobre uma caixa, encolhendo as pernas para dentro da camisa toda esticada e me disse que Samuel (nome fictício) foi preso por tentativa de roubo de um mercado.

Diferentemente dos outros dias, ele não era mais aquele outro Camilo, tão seguro de si, tão destemido, tão confiante. Ele estava frágil, sentindo-se só, com medo. Veio em busca de ajuda e pediu ajuda. Pediu que telefonássemos para a mãe dele e perguntássemos a ela se ele poderia ir lá só para pegar um cobertor e tomar um prato de sopa.

Ligamos. Ela se lembrou de mim. Há um ano, conversamos num bar que existia antes da reforma pela qual a Feira de São Joaquim vem passando atualmente. Enquanto bebia e fumava, contou-me que desde os 10 anos, principalmente após a morte do pai, ele mudou radicalmente - e, após conhecer o crack, chegou a vender todos os objetos da casa, deixando-a completamente vazia. Contou que levou para psiquiatras, psicólogos e neurologistas. “Ele tem pobrema na cabeça, doutor”, ela disse.

Na época, ela estava determinada a tirá-lo daquela vida nas ruas, no meio de bandos de moleques. Sentia-se frequentemente ansiosa e, contra isso, passou a tomar diazepan diariamente. “Eu tomo, doutor, e o mundo pode cair que eu não ligo”. Passei o telefone para Camilo. “Ela disse que eu posso ir”, ele me disse e depois perguntou se nós podíamos levá-lo para a casa da mãe no carro do Consultório de Rua. Conversei com a equipe e, no final, achamos por bem levá-lo tanto para coroar um vínculo que vem sido construído há dois anos, quanto como estratégia de articulação com a família.

Ele foi conosco – eu, o capoeirista e a enfermeira - e pudemos acompanhá-lo até a sua casa. Boa casa. Já na sala, uma mega tv de várias polegadas e tudo que me pareceu bem típico de um certo padrão médio de consumo idealizado em nossa sociedade. Lamentou que ele estivesse em tão deprimente situação, uma vez que tinha condições para mantê-lo dignamente, e disse com pesar que tudo o que possui atualmente nem se compara ao que possuía em sua antiga casa e que foi totalmente vendido pelo próprio filho.

Mostrou os diagnósticos do psiquiatra e do psicólogo: transtorno opositivo desafiador e retardo mental. Comentei que são categorias em discussão, mas que, de todo modo, tenho outra percepção do rapaz. Ele me pareceu um rapaz inteligente, esperto e tem se mostrado, desde quando eu o conheci, mais maduro (é certo que não muito, mas, de todo modo, mais).

Apesar de dizer que ele tem “pobrema”, não deixou de culpá-lo, como se houvesse um sujeito dado, com livre-arbítrio, que decide, voluntariamente, ser um “pobrema”. O rancor pareceu ainda não ter sido curado, motivo pelo qual parecia cega à percepção do poder vampiresco do crack em um cérebro imaturo e sem ter construído ainda qualquer estrutura reflexiva mínima que pudesse, ainda que minimamente, conter e limitar a necessidade rapidamente renovada de satisfação do impulso do prazer vinculado ao estímulo da área tegmentar ventral.

“Ele não quer”, ela disse, “por isso eu desisti”. Sua expressão era de frustração e sofrimento. Era um momento delicado. Intervi afirmando que nós, do Consultório de Rua, compreendíamos a sua dor e que estávamos ali para dar apoio a ela. Mas nós também estávamos ali, continuei a dizer, para dar apoio a ele, no que diz respeito às questões relacionadas ao uso de substâncias psicoativas.

Guiados pelo princípio da liberdade e do respeito, apostando no vínculo, na confiança que ela e, principalmente ele, depositou em nós, dissemos, por fim, que, independentemente do modo como pode ser concebido o problema do uso danoso de crack, continuamos apostando que ele, com o nosso apoio e o apoio da família, tem poder de tomar as rédeas do seu destino, tornando-se sujeito de sua própria vida.

Recomendamos a ela o grupo de família do CETAD e nos disponibilizamos a levá-lo ao mesmo local pelo menos para conhecer e avaliar se é de seu interesse. Senti que o clima mudou, pelo menos assim indicou o fato da mãe convidá-lo a passar aquela noite chuvosa em casa, o que ele aceitou de pronto e com expressão de alívio.

Já foi um começo para uma nova esperança...

Anselmo Chaves é psicólogo e integra a equipe do Consultório de Rua de Salvador